domingo, janeiro 13, 2008

egoísta

Não sei o que escrever, mas sei que preciso, sei que é o me falta.

A estranheza de perceber que alguém se deu conta do que me faz sucumbir por dentro me assusta. Não sei lidar com isso, não sei lidar com carinho, muito menos com amor. Amor dos outros. Me dilapidei de certa forma que sou capaz de sublimar, quase tocar, o mais perfeito dos sentimentos, as menores sutilezas dos meus sentimentos. E aí que está, não sei lidar quando vem de fora, quando as sensações vêm de fora, quando não vêm de mim. Fico perdida, não sei como agir. Me desarmam e não sei o que fazer. O tempo inteiro me exercitei pra parecer uma muralha. Não gosto de demonstrar o que sinto, não gosto de chorar na frente de alguém, odeio demonstrar fraqueza. É lógico que sei que isso é simplesmente ridículo, ninguém me cobra isso, seria até um disparate. Mas eu me cobro isso, eu. Sou capaz de ser minha própria carrasca - eu me meto medo.
Agora, pensando assim, chego a conclusão que sempre cheguei: sou uma egoísta. Tudo que sinto é de eu para mim. Todos os meus problemas me giram em torno. Tudo não chega a ultrapassar as pedras da muralha que tanto quis construir. E pronto. Tanto anos que já se seguiram, pedra por pedra, sei que qualquer mínima pertubação pode botar tudo abaixo. É assim que me sinto quando alguém me nota. Sinto os muros virem abaixo e deixarem em plena exposição meu eu frágil, franzino, cheio de dúvidas e hesitações. Pra mim soa como pecado.
Sei como é díficil, se sei, responder a questões tão simples como "o que você tem?". Não sei o que tenho, nem o que não tenho, tudo me pesa na mesma balança. E enquanto penso no que me falta ou não falta, sinto os pedregulhos rolarem rápidos da muralha, despedançando em vários pontos. "O que você tem?". Tenho vontade de responder que não tenho nada, mas que também tenho tudo, e isso faz de mim uma enorme descontente - descontente egoísta. Mas admitir uma coisa dessas realmente me faria sofrer, me deixaria à mercê daquele eu fraco que quero esconder. Então eu disfarço, não minto, mas escondo. Mentir seria vil demais, minto só se for pra não deixar que sofram por minhas preocupações, como sempre, egoístas. Só devolvo a pergunta, rápida, me achando a mais esperta das criaturas "Por quê? Pareço ter alguma coisa?". Deus sabe que esperteza demais é burrice. E eu sei, que essa minha malandragem não passa de faixada, faixada tão delicada, de alguém que se destrói por dentro.
Tenho medo de estar enlouquecendo. Não minto, tenho mesmo. Às vezes não me reconheço no espelho, às vezes não me reconheço nas mãos, nos pés, em nada. Parece que não sou eu, nem fui eu, fui só alguma coisa que inventei. Alguma coisa que não consigo controlar direito, que me escapa de vez em quando e que faz perceber, em teses egoístas de verbos em primeira pessoa, o quanto não me acho, não me entendo e me condeno. Porque viver sempre é tão difícil. Me dói viver, sei que me dói, mas não vejo outra forma para ser feliz.