sábado, fevereiro 26, 2011

Presente na porta

Era um dia mais que especial. Era um dia daqueles que custavam a chegar. Dias ansiosos, cheios de risadas, abraços - dias de festa. Ela treinava o sorriso no espelho do quarto, tentando achar o ângulo mais bonito. Depois falava uma frase qualquer, só pra ver se a maquiagem não iria borrar. De repente, ainda em frente ao espelho, ela parava um momento para se encarar. Meio sem jeito, corava de vergonha. "Onde já se viu?" - ria-se - "Só eu pra pensar que a gente pode ensaiar a vida". Então, ela ajeitou o vestido de flor, olhou-se pela última vez e, decidida, deixou o quarto.

Ela veio caminhando apressada pelo corredor. As sapatilhas fazendo barulho na madeira imitavam a frequência cardíaca - coisa de gente apaixonada. Seguiu para a sala. Podia jurar que, por detrás das portas, ouvia gente sorrindo, conversando sobre qualquer coisa. A ansiedade de viver aquele momento a sufocava na boca do estômago. Tentava se acalmar sozinha, repetindo-se que aquele dia não era o dela. Achava-se boba por um instante. Se aquele realmente fosse o seu dia, ela não estaria nervosa assim. "Mas aí que está. Hoje não é meu dia, não. É o dia dele". Era o dia dele.

Outro riso sozinha - às vezes era egoísta e guardava aqueles pontinhos luminosos de alegria só para ela. Ainda sorrindo, resolveu pensar em um presente. E teria que ser inesquecível, disso tinha certeza. Não sabia o que comprar - até porque o que ela queria, não se vende. Queria um momento de paz, outro de plenitude, um tantinho de sucesso e um montão de amor. Poderia juntar isso tudo e entregar numa caixa embalada com fita, talvez. "Sim, sim, parece bom!" - exclamava-se. Ninguém faria melhor, ninguém. Então, ela colocou a caixa debaixo do braço. Conferiu mais uma vez o vestido. Respirou de uma só vez - estava na hora de ir. Estava na hora de dar tudo isso a ele.

Quando levou a mão ao trinco da porta, sentiu um aperto no peito, uma sensação de que esquecera de alguma coisa. Ela pôs a caixa de lado e correu até o quarto. Em frente ao espelho, as mesmas flores rosas e o batom sem borrar. Encarou-se por alguns segundos até seu reflexo lhe dar a resposta. Para onde ela iria? Às vezes era acometida por esses lapsos de ingenuidade - como se fosse encontrá-lo por ali, logo ao abrir a porta. A realidade era dura e, de vez em quando, surgia no sonho para lhe açoitar. Os olhos dela se encheram de lágrimas rapidamente e, antes que pudessem correr pelo rosto, a pobre já havia sentado no chão. Por um momento quis que o dia acabasse ali. "Longe dele parece que as coisas não importam muito" - argumentou-se.

Com o peso da saudade nas costas, ela fitou os pés por alguns minutos. Nessas horas gostava de retomar o sorriso dele, os jeitos dele, a presença dele. Pequenos flashes de felicidade passada, mas que valeriam por toda a vida. Confiante das lembranças, ela levantou e foi até seu reflexo. Esquecendo de todo o resto, começou assim - "Se foi você quem me acordou, então pode ser o mesmo a levar meu recado. Diga a ele que o espero de vestido florido. Diga a ele que tenho um presente na porta. Diga a ele que tenho beijos e abraços guardados. Diga, diga que tenho lágrimas por vir, sorrisos para entregar, palavras por dizer. E, diga, por favor, que o amo com a força de tudo aquilo que espera sem sair do lugar".

Com a mão esquerda ela esfregou os olhos. A maquiagem foi parar na bochecha e, pela primeira vez, ela não se importou. Outros olhos estariam lá no lugar dela. Suspiro com pontinha de dor. Apesar de tudo, ela ainda tinha outros motivos para sorrir - um grande motivo para sorrir: era o dia dele. E, por ele, ela poderia encarar o espelho e dizer - "quem ama, entenda de uma vez por todas, faz assim".

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Recado aos amores

Amores,
não sei há quanto tempo ensaio escrever este texto pra vocês. Nada do que eu escrevia parecia bom o bastante – e, no fundo, eu sei que nunca vai ser. O recado que eu vou dar é este daqui: a partir do dia 28 de fevereiro não farei mais parte da equipe Luan Santana e da Central de Fãs. Calma. Antes de qualquer suspiro de surpresa, eu explico melhor: estou saindo por minha escolha. Como já contei pra vocês (e vocês até torceram comigo!), vou fazer meu mestrado em Comunicação. Meu sonho e meu objetivo maior sempre foram seguir a carreira acadêmica, ser professora mesmo. Eu sempre pensei em todos os professores que mudaram a minha vida e queria ser como eles – ensinar a ver o mundo de um jeito diferente, fazer a diferença, aprender lecionando. Mas, eu mal desconfiava que, antes mesmo de ser professora, eu poderia, sim, fazer a diferença na vida de muita gente e aprender ainda mais com isso.

É, amores, vocês foram a surpresa mais doce e brilhante da minha vida. Nunca imaginei que, um dia, poderia ter tantos sobrinhos e sobrinhas espalhados por aí. E mais: nunca imaginei que pudesse haver um amor tão grande, um carinho tão grande, capaz de me fazer sorrir até nos dias mais difíceis. Como poderia e como pode alguém ganhar um presente tão bonito feito esse? Agradeço a Deus todos os dias por vocês, pela oportunidade que Ele me deu e peço para que eu seja capaz de sempre retribuir à altura. Pois é, vocês me ensinaram que não precisa muito para aprendermos – às vezes basta ouvir o coração. E é ouvindo meu coração que eu sigo atrás do meu sonho. “Só quem sonha consegue alcançar”, não é? Pois aqui vou eu lutar por aquilo que acredito.

Fico feliz por batalhar por aquilo que quero, mas triste porque sei que, enquanto lerem esse texto, vocês também possam sentir o mesmo aperto no peito que estou sentindo. Por favor, amores, quando lerem tudo isso daqui, sorriam! Sorriam porque é assim que quero sempre vê-los – amando, em paz, completos, felizes! Não estou pra sumir nem pra abandonar ninguém, só estou partindo para uma nova fase da minha vida – e, com certeza, vou levá-los comigo. Daqui há 30, 40 anos, vocês ainda serão meus amores, meus anjos, minhas estrelinhas. Porque é assim, quando amo uma vez, amo pra sempre.

Não sei se cabe um pedido, mas se for pedir, peço que Deus abençoe a vida de cada um de vocês. Cuidem-se e tenham juízo, viu? Vivam cada dia, pulem, gritem, amem. Amem muito.

Quanto a esse amor lindo de fã, quero contar uma história. Um dia amei alguém demais. Coisa de cinema, de conto de príncipe e princesa. E eu era tão feliz assim. Sorria só de pensar nele e me sentia bem só de ouvir a voz. Mas, um dia, sem entender direito, Deus quis que meu príncipe fosse sorrir pra Ele. E pronto, ele foi e eu fiquei – só pra aprender a lição mais preciosa do mundo: amor não tem medida, não tem posse, não tem preço e, acima de tudo, não tem distância. Vai ver por isso de eu amar tanto vocês. Vejo em cada um, um pedaço dessa lição, uma prova de que, sim, Deus sempre é maior e o amor também. E, se me permitem ensinar alguma coisa para vocês, que tanto me ensinaram, não sofram pela distância – amem mais e vivam. Tenho certeza de que a vontade do Luan, assim como a minha, é ver que todos vocês estão bem, rodeados de amigos, rindo por aí. Então amem, meus amores, amem e não esqueçam de que amar vocês mesmos também é muito importante.

E, é claro, não podia deixar de agradecer ao Luan e a todo mundo do escritório. Foram 7 meses incríveis ao lado de pessoas incríveis. Obrigada por terem acreditado em mim e por terem me dado essa oportunidade tão especial. O que vivi aqui vale pra vida inteira. Tenho certeza que a carreira do Luan só vai crescer mais e mais – pessoas humildes, honestas e boas como ele merecem o que há de melhor nessa vida.

Quem conseguiu chegar até aqui, no final desse textão, muito obrigada! Obrigada por trazerem mais luz a minha vida. Por me fazerem sentir especial. Por me fazerem acreditar que só quem sonha consegue alcançar. Também aproveito e peço desculpas se magoei alguém ou se não fui capaz de ajudar quando me pediram. Cada lágrima de tristeza que derrubavam, juro, doía em mim.

Se meus braços permitissem, daria um abraço forte em cada um, mas, como ainda não aprendi a voar, peço que sintam-se todos abraçados. Que o peso do “eu amo vocês” seja suficiente para afagar cada rostinho e leve o bastante para fazer coçar o nariz e arrancar um sorrisinho surpreso. É, amores, eu amo e vou amar pra sempre vocês.

Fiquem com Deus. Quando precisarem, estarei sempre à disposição, de plantão e de coração. E se Deus quiser, ainda vou ser professora de muitos de vocês! Nos vemos por aqui, por ali e pro futuro, combinado?

Um beijão enorme da Tia Ju.

domingo, janeiro 23, 2011

A volta do que não foi

"Memória,
te escrevo para dizer que, trágico assim, foi o momento que te perdi. Te escrevo para que, em algum momento, volte para casa para me dizer exatamente o que aconteceu. Sei que andei falando mal de nós por aí. Sei que errei quando quis por a culpa toda em você. Mas acontece que me magoei. Me magoei como sempre. Como você sempre soube e me alertou. Me magoei porque você teimava em me mostrar o que não queria ver. Por me lembrar das minhas fraquezas, das minhas ilusões, da vida que tenho, te mandei embora. Volta, por favor. Volta que minha vida sem você é mais difícil. Volta que, sem você, não tenho mais motivos para lembrar.
Ainda choro pelos mesmos fatos, pelos mesmos casos, pelos mesmos erros. Você foi, mas nunca te deixei ir na verdade. Essa pose de desmemoriada não combina comigo. Sou boba demais para fingir, e todos nós sabemos disso. Às vezes me faço de forte para impressionar não sei a quem. Sei que não engano e você é a única que me conhece por completo. Volta para casa. Volta para mim. Não quero esquecer mais. Não quero fechar os olhos e dormir sem lembrar. Choro por mim e por você. Choro por saber que a vida é cruel e as lembranças também. Mas o que a gente faz todos os dias, senão viver? Então vivo e quero lembrar. Vivo e quero sentir o gosto amargo de uma rejeição qualquer. De qualquer ignorância de sentido. De qualquer desilusão sofrida e sem coração.
Não sou de canalhice, você sabe disso. Não sou de fazer falsas promessas, mas de acreditar em qualquer coisa. Eu devia acreditar só em você, agora eu sei. Volta para gente tentar feliz."

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Só ela

E lá estava ela. Só ela, sorrindo pra si mesma. De novo ela sentia aquele mesmo aperto no coração, no peito, no estômago - qualquer coisa assim. Suspiro de medo misturado com expectativa. "Quero amar" - repetia-se, "quero amar". Amante, sempre fora. Daquelas que perdem o fôlego e os sentidos. Daquelas que ficam cegas de vez em quando e resignadas a qualquer atenção a mais. No fundo, ela sabia, "sou boba" - confessava-se rindo. Era boba, quem poderia dizer? Era boba nas bobagens e boba no que fazia. Era boba por amar e por viver bobamente amando. Não sossegava até achar um novo alvo pra mirar, um novo coração pra desejar, novos olhos pra chamar de seus. Pobre criatura a amada, talvez nem fizesse ideia que já fosse tamanho destino de tanta admiração. Pobre criatura, perdeu-se quando deu aquele sorriso sem jeito. Perdeu-se quando olhou pros olhos sedentos dela, sugando tudo, amando tudo, guardando tudo. Não lembrava direito dos detalhes - estado ébrio de espírito de qualquer amante patológico - mas sabia que ele a fitava sem parar, sem parar. Olhos pequenos e mudos. Confissões ao pé do ouvido que agora não faziam muito sentido. "Te amo" - gritava-se - "te amo" - estranhava-se. Passou da idade de querer alguém tanto assim. Passou da idade, "passei da idade" - justificava-se.
Sopro de juventude, era isso que faltava a ela. Sangue correndo nas veias, sofrer por amor, choramingar pelos cantos, sorrir pro mundo. Só era feliz assim, a pobre. "Só assim, meu Deus, só assim". Perguntava-se sozinha toda noite se ele ouvia o quanto pensava nele. Se ele via todos os castelos e pequenos momentos que já havia desenhado. "Como pode alguém querer sem pensar se o outro quer? Como pode tanto amor gratuito por migalhas de esperança?" - de vez em quando ela mesma se castigava. Mas depois sorria - nasceu com alma de romântica. Nasceu assim.
Então ela fechava os olhos devagar e se permitia sonhar um novo momento. Novas frases, novas atitudes, novos sorrisos intencionais. Desenhava um futuro seguro, um amor divertido, dias e noites de gargalhadas. "Quero amar" - e pronto. Nova culpa adquirida, novo amor pra se ocupar. "Volta" - surpreeendia-se. Queria que ele voltasse pro mesmo instante daqueles olhares, pro mesmo instante de surpresa, de magnetismo, de qualquer clichê de amor à primeira vista. "Volta" - finalizava. Porque no final ela sabia, ninguém vai embora pra nunca mais, nem volta pra sempre. Pobre amante, pobre coração. Queria amar, queria amar. "Quero você" - e a sentença final. Ela queria, ela não podia, mas amava.

domingo, janeiro 02, 2011

Olhos castanhos rasgados

Olhos castanhos rasgados. Faz tanto tempo que ensaio pra lhe escrever de novo. Às vezes sinto que me faltam as palavras - parece que já lhe contei tudo, que esgotei meus sentidos e minha criatividade. Fico com medo de que as frases não combinem e nem se encaixem. Fico com medo de que leia e pense que mudei tanto assim. Não mudei, olhos castanhos, juro que não. Ainda sou a mesma amante boba dos tempos das tardes de sol. Das noites de lua e das risadas por acontecerem. Ainda sou a mesma. Entenda, não é porque não lhe escrevi antes que deixei de lembrar. Lembro de você todas as noites, naquele exato momento entre razão e devaneio, na fuga dos pensamentos, na porta de entrada do sono. Lembro de você pra suspirar como sempre fiz. Lhe encontro sempre me sorrindo. Aliás, há quanto tempo deixei de lhe ver nos nossos encontros secretos? Não lembro mais. Sei que a vida segue muda, olhos castanhos. Sei que o tempo passa mesmo quando pedimos para não passar. Sei que envelheço a cada dia - e com a maturidade vem a responsabilidade, a rotina, o desprazer de viver todos os dias como se cumprissemos apenas uma tarefa. Escuta, olhos castanhos, quero lhe dizer que não lhe esqueci. Quero dizer que a vida pode seguir o seu curso, posso não ser eu mesma, mas as suas lembranças estarão aqui. Marcadas feito fogo, no mesmo lugar que escolhemos pra guardar tudo aquilo que nos quer bem. Fiz questão de ter seus olhos pra mim. Fiz questão que todos os outros olhos olhassem assim, feito intriga, feito surpresa, feito curioso pra saber - que seus olhos foram meus e eu fui toda de você.
Não sei se ainda lê o que lhe escrevo, também não sei se ainda escuta o que lhe digo, mas eu sinto saudades, olhos castanhos. Um dia ainda vou te cruzar nos mesmo olhos que te trouxeram pra mim.
 

segunda-feira, novembro 08, 2010

Olha

Insônia de uma noite quente. Os olhos cansados de trabalhar, de ver, de apurar todos os detalhes. Vivo com os olhos e não tenho vergonha de admitir. Sorrio com os olhos como nos poemas mais clichês. Coço os olhos com força quando tenho que coçar e os derramo em lágrimas sempre que o coração assim pedir. Olho coração - sabe quando vê algo que gosta, pisca quando não acredita e se fecha quando não quer olhar. Olho feito pra ver, feito pra encarar. Olhar de relance, olhar de mentira, olhar de qualquer coisa. Vivo para enxergar e enxergo para viver. Não escolhi assim, me fizeram assim - nos fizeram assim. Escravos dos olhos, inimigos do escuro, medrosos da cegueira.
Vivo na cegueira porque enxergo demais. Vivo com os olhos porque aprendi a sincronizar com o coração. Mas que fim de mundo, olhar desse jeito. Os olhos não foram feitos para sentir. Por que olhar para o olho que, muitas vezes, não olha pra nada? Olhos sedutores, olhos gulosos, olhos mesquinhos. Não quero viver do olho, não quero. Me ensina a ver com os olhos fechados - ou me ensina a amar, acima de tudo, de olhos bem abertos.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Saudade

Saudade do tempo que não foi. O momento exato não sei dizer, somente tenho comigo a vontade funda de escrever. Escrever me arrepia. Escrever me faz viver um pouco mais. Há quanto tempo que não tenho o que dizer. Há quanto tempo me deixei levar pela rotina surda das coisas que devemos fazer. Há quanto tempo deixei de notar que o destino - implacável - está por aqui, não sei se rindo, não se cobrando, mas vivendo por todos nós. É, nem sempre os dias são de paz. Nem sempre a noite vem calma. Zumbido surdo, vontade torta, amor demais. Vivo porque amo. Choro porque quero, porque os olhos quiseram assim. Penso, penso e chego a conclusão que a vida é mesmo volátil. A fragilidade me assusta, me traz qualquer melancolia. Qualquer impulso de hesitação. Que exemplo tenho pra dar? Que amor tenho pra dividir? Ter razão, ter sentido, ter palavra, ter poder. O que, enfim, queremos ter? Onde queremos chegar? Onde quero chegar? Não sei, juro que não sei. Será que somos, será sou tão frágil quanto a vida? Será que sou sempre a mesma criança que não se reconhece no espelho? De medo, desvio o olhar. Estranheza de se ver. Estranheza de se encarar. Arrepio de sensações antigas, conflitos passados. Ainda sou a mesma. Ainda me carrego na alma. É saudade do tempo que não foi, definitivamente.