sábado, junho 12, 2010

Amante

Alguns momentos sempre são únicos. A tomada de decisão, a escolha do caminho, um sorriso sincero. Queria que esse momento fosse meu, mas não é. Queria poder parar o tempo, congelar os minutos na felicidade honesta de quem ama. Por que a vida é um insistir em mudanças? Por que essa necessidade cega de alterar a rota, de desviar para o atalho, de se perder num lugar onde não se tem mais caminhos? O que me espanta nisso tudo, digo com clareza e repito, não tenho o momento, não tenho a decisão, estou despida de qualquer tipo de poder. Estou à revelia. Me arrastam para onde não queria ir, me cobram por uma dívida de nunca pensei ter. Qual o risco de ser tão humana? Qual o tamanho da misericórdia? Qual o preço de uma redenção? Como se muda o que não se sabe? E mais, como se julga o que não se entende? Nas tantas perguntas que me lançam a essa confusão que é viver, me sinto atordoada - de corpo e de alma. De que adiantaria sorrir pela metade ou aceitar o que se nega? Por que precisamos re-amar o já amado, viver o já vivido, questionar o inquestionável? Não preciso, sinto em mim. Não preciso, grito por dentro - cólera puramente humana. Raiva que vem daquele fundo inteligível de tudo que respira.

Qual a taxa de cobrança da felicidade? Não quero viver no aqui-se-faz-aqui-se-paga. Não quero seguir aos trancos. Não quero cair, não quero hesitar. Custa dizer que só quero ser feliz? Custa dizer que, se pudesse, viveria só de amor? Quanto custa? Muito custa. Custa o preço do sacrifício, a dor da ausência, o desejo reprimido. O amor amordaçado, as mãos atadas, o eterno "quero ir, mas não posso". O para sempre "eu não devo". Não posso, nem quero, admitir a crueldade do que segue. A brutalidade da procura pela certeza. A sede rude da superação. A dor amarga de ser assim - pequena, pulsante, amante em todas as palavras.