Insônia de uma noite quente. Os olhos cansados de trabalhar, de ver, de apurar todos os detalhes. Vivo com os olhos e não tenho vergonha de admitir. Sorrio com os olhos como nos poemas mais clichês. Coço os olhos com força quando tenho que coçar e os derramo em lágrimas sempre que o coração assim pedir. Olho coração - sabe quando vê algo que gosta, pisca quando não acredita e se fecha quando não quer olhar. Olho feito pra ver, feito pra encarar. Olhar de relance, olhar de mentira, olhar de qualquer coisa. Vivo para enxergar e enxergo para viver. Não escolhi assim, me fizeram assim - nos fizeram assim. Escravos dos olhos, inimigos do escuro, medrosos da cegueira.
Vivo na cegueira porque enxergo demais. Vivo com os olhos porque aprendi a sincronizar com o coração. Mas que fim de mundo, olhar desse jeito. Os olhos não foram feitos para sentir. Por que olhar para o olho que, muitas vezes, não olha pra nada? Olhos sedutores, olhos gulosos, olhos mesquinhos. Não quero viver do olho, não quero. Me ensina a ver com os olhos fechados - ou me ensina a amar, acima de tudo, de olhos bem abertos.